Escrito por Isaías Maciel, acadêmico de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.
A cachaça é obtida da
cana-de-açúcar planta originária da Ásia e da Oceania, no período colonial o
açúcar advindo dessa planta representou o principal monopólio para a coroa
portuguesa.
“Segundo fontes documentais dos
anos de 1762 a 1817, eram obtidos dois tipos de bebidas destiladas: uma
provinha do caldo de cana fermentado e se chamava de aguardente de cana; a
outra era obtida a partir do que sobrava nas caldeiras dos engenhos e era chamada
aguardente de mel ou cachaça (Zeron, 2000, p. 56, 58.). Cascudo (1968, p. 54) a
descreveu como a mais
comunitária das bebidas, sendo usada em festas, cerimônias tribais, cultos
religiosos e oferendas votivas aos mortos, muito além das terras brasileiras.”
No período colonial a cachaça foi
utilizada como moeda de compra de escravos africanos e a mesma era utilizada na
alimentação dos cativos. Devido inicialmente a bebida ser consumida por
escravos e eventualmente por pessoas com baixa renda, a cachaça era
discriminada como uma bebida inferior. Durante o século XIX com os problemas
sociais intensificaram-se as discriminações, em um movimento de contrapartida o
Modernismo iniciado em 1922, músicas famosas como “Camisa listrada” (1935), “
Se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não...” (1953), por
exemplo, representaram manifestações contrárias a discriminação da cachaça.
Há dois modos de produção da
aguardente: o artesanal e o industrial. O modo artesanal usa o fermento natural
presente no caldo de cana e a fermentação leva 24 horas para completar-se.
Normalmente é adicionado fubá, milho moído cru ou tostado, farelo de arroz ara
auxiliar o desempenho do fermento. Nas grandes indústrias o processo é mais
rápido (cerca de 5 horas).
A cachaça é a segunda bebida mais
consumida no país, com consumo diário estimado em mais de 70 milhões de doses.
A cachaça mais produzida no Brasil é da destilação contínua, mas a cachaça que
tem maior valor agregado e um público mais exigente quanto às características
sensoriais, é produzida através da destilação descontínua.
De uma forma geral, pesquisas demonstram que o melhor rendimento na destilação ocorre quando o caldo apresenta grau Brix entre 17⁰ e 20⁰. Para as variedades escolhidas, uma das características verificadas é o percentual de fibra, quanto maior quantidade de fibra, menor é a eficiência. E nas características das variedades de cana-de-açúcar necessárias para a produção de cachaça destacam-se: o porte (ereto), entrenós longos e, fácil despalhada. No período de colheita deve ser evitada a queima, e apenas ser realizado o corte rente ao solo.
O processo de produção da cachaça envolve várias etapas: moagem, filtragem, fermentação, destilação, armazenamento, envelhecimento, envase, rotulagem.
a) Moagem: o tempo ideal para
moagem é de 12 horas depois do corte realizado na cana-de-açúcar, e
nunca ultrapassar 48 horas; entre inúmeras maneiras para expressar a eficiência
de moagem, usa-se a quantidade caldo extraído e o peso do bagaço.
b) Filtragem: o caldo depois da moagem
contém inúmeras impurezas que diminuem a qualidade da cachaça a ser produzida.
Nesse processo será eliminado a terra, bagacilhos etc., e assim ser direcionado
para a fermentação limpo, doce e claro;
c) Fermentação: como há
possibilidade de apresentar teores de açúcares diferentes devido à presença de
diferentes variedades. É realizada uma correção do Brix com água potável. O
caldo é direcionado as dornas de fermentação e permanecerá durante 24 horas em
temperatura ambiente (25 ⁰C) ideal para as leveduras;
d) Destilação: na etapa anterior
foi produzido o vinho de cana que apresenta baixo teor de etanol. Esse teor
será corrigido na destilação, de acordo com os teores previstos em Lei para a
cachaça. Os alambiques utilizados são de aço inoxidável e de cobre, usualmente
são utilizados os de cobre, pois esses tipos de alambiques apresentam a
vantagem de catalisar a reação de oxidação de compostos sulfurados responsáveis
por sabores desagradáveis. A cachaça recém-destilada, de coloração branca,
apresenta sabor agressivo e levemente amargo, identificador de bebida nova;
e) Armazenamento e Envelhecimento:
com o armazenamento para o envelhecimento é utilizado pensando em aprimorar o
aroma e o sabor, atribuindo uma maior qualidade. A bebida é transferida para
barris de aço que não alteram a cor, ou para barris de madeira que agregam
características sensoriais, entre as madeiras utilizadas temos (jequitibá,
freijó, amendoim, ipê, carvalho, jatobá, bálsamo, amburana, vinhático,
sassafrás, cerejeira, ariribá);
f) Envase e Rotulagem: no
engarrafamento se usa recipientes que variam de volume entre 600 ml e 1000 ml.
Na rotulagem todas as informações direcionadas ao consumidor e finalmente o rótulo
é registrado no Ministério de Agricultura, conforme decreto 2.314, de 04∕09∕97.
A cachaça ocupa uma posição de
destaque na história brasileira, mas que é pouco conhecida e valorizada. Mas
aos poucos isso vem mudando, através do maior consumo, melhoria na qualidade,
um maior espaço para as artesanais, etc. Reconhecendo a cachaça e seu papel
fundamental e intrínseco na cultural e história brasileira.
Brix: Escala hidrométrica que indica a
percentagem em peso de açúcar em solução.
Fontes:
Cachaça de Alambique. PESAGRO –
RIO Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro. 2008.
Cachaça Artesanal – Estudos de
Mercado SEBRAE∕ESPM. 2008
PINHEIRO, P., LEAL, M. ARAÚJO, D.
Química Nova na Escola: Origem, Produção
e Composição Química da Cachaça. Nº 18, novembro. 2003.
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