domingo, 29 de junho de 2014

Gastronomia Regional: Patos

     Escrito por Paula Sousa,
Acadêmica de Gastronomia na Universidade Federal do Ceará.

O pato é uma ave presente em várias preparações, tanto na culinária internacional como na regional. Na culinária internacional é comum a utilização do pato nas preparações de confit de pato* e foie gras*; enquanto que aqui, ele é bastante utilizado na culinária regional do Norte, em especial no Pará onde um dos pratos típicos é o Pato no tucupi*.
           A diferença entre o pato e galinha se deve ao fato de o pato ter um sabor mais refinado e uma carne mais suculenta e gordurosa, além de ser mais escura do que a da galinha. Porém não são tão populares quanto as galinhas porque a relação "custo X quantidade de carne" torna o pato mais caro (por kg). Na hora de escolher é necessário observar: a firmeza da carne, se possui tons claros e aroma fresco. 


           Além da carne, os ovos da pata também são bastante apreciados, seja feitos fritos ou cozidos como na famosa gemada. Na China é consumido sob a forma de “ovos pretos” , pois passam por um processo de cozimento, e são enterrados por diversos dias em uma mistura de sal, chá verde, argila e cinzas.





*Confit de canard (pato): Prato típico da gastronomia francesa, a carne é temperada e cozida na própria gordura, lentamente. Após cozido, a carne e a gordura descansam juntas até a preparação final. Este prato surgiu no sudoesta da França no século 18.








*Foie gras: Considerado uma das maiores iguarias da gastronomia francesa, é um patê do fígado gordo de um pato ou ganso que foi super alimentado. É conhecido por ter um sabor suave e um pouco amanteigado.




*Pato no tucupi: Prato típico do Norte do Brasil, utiliza pato, tucupi e jambu.





Ficou com vontade de saborear a carne de pato? Veja no nosso livro de receitas uma receita de Pato com laranjas, arrisque-se e se delicie!
Para a receita, clique aqui!



Referências:

http://www.codeagro.sp.gov.br/cesans/pdf/Aves_e_ovos.html
http://www.regmurcia.com/servlet/s.Sl?sit=c,543,m,2717&r=ReP-23870-DETALLE_REPORTAJESPADREhttp://www.tudogostoso.com.br/receita/16191-pato-com-laranja.html
http://gnt.globo.com/receitas/receitas/pato-ao-molho-de-laranja-com-batata-assada-receita-de-olivier-anquier.htm
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,quem-nao-tem-pressa-come-confit,4558
http://www.tudonapanela.com.br/2009/04/pato-com-laranja.html
Livro: Le Cordon Bleu- Todas as técnicas culinárias






sexta-feira, 20 de junho de 2014

Cinema e Gastronomia


Final de semana chegando e o UFChefs traz mais uma novidade para você, semanalmente teremos sugestões de filmes voltados para o universo gastronômico/culinário, afinal comida é para ser apreciada com todos os sentidos.


COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE (1993)

Baseado no romance escrito por Laura Esquivel, Como Água Para Chocolate é um filme mexicano de 1993, dirigido por Alfonso Arau. O filme se assemelha a um conto de fadas, mesclando fantasia, amor, ódio, abnegação, egoísmo, poesia e dor. Recebeu o prêmio de melhor filme no Festival de Gramado de 1993 e de melhor atriz e melhor atriz coadjuvante, respectivamente, a Kumi Cavazos e Claudette Maillé.

A história se passa no início do século XX, numa fazenda mexicana, na fronteira com o Texas, Tita (Lumi Cavazos) é proibida de casar por ser a filha mais nova e, segundo a tradição familiar, cabia à mesma permanecer ao lado da mãe, prestando-lhe toda a assistência necessária em sua velhice. Tita vive um amor ardente, apaixonado e contido, apesar de correspondido, com Pedro (Marco Leonardi), o qual acaba por casar-se com sua irmã, Rosaura (Yareli Arizmendi), apenas para continuar próximo da amada.

Tita, que foi criada por Nacha (Ada Carrasco), cozinheira da fazenda, envolta nos segredos e magia da cozinha, desenvolve o dom de transmitir suas emoções, através dos alimentos, aos comensais. Ao longo do filme suas preparações despertam os mais variados sentimentos em quem as experimentam, desde a dor, comoção e angústia, até a mais lasciva e exalante sensualidade, que ocasiona o despertar da libido em sua irmã Gertrudis (Claudette Maillé) que, em chamas, atrai o capitão revolucionário e foge com ele.

“Desde os biscoitos de nata, ao ‘mole’ (prato típico mexicano), todos os alimentos são preparados envoltos num ritual onde a magia do elo alimento/vida, aroma/perfume, sabor/sensação, textura/sensualidade se exacerba numa magnitude que deleita o paladar da alma” (Cris da Silva)

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Carne de sol: o melhor do sertão

Escrito por Aline Caetano,
Acadêmica de Gastronomia na Universidade Federal do Ceará.


Umas das delícias mais consumidas pelo povo nordestino nasceu de uma necessidade. Com a ausência da refrigeração, a cura de carnes se tornou uma necessidade em tempos mais antigos. A carne de sol é resultado de um processo de cura, que tem como objetivo a conservação da carne.   O processo de cura se dá pela adição de sal, açúcar ou outros condimentos alterando assim, as características organolépticas do alimento, como textura, cor e sabor. No caso da carne de sol, a cura da carne é feita pela salga, havendo assim uma desidratação da carne, diminuindo a atividade microbiana presente.

Carne de Sol x Carne Seca x Charque

É comum confundir estes três tipos de carnes, a diferença está basicamente no método de preparo.

*Carne de Sol:

Possui outras denominações como carne de sertão, carne de vento ou carne serenada. É feita com a carne ligeiramente salgada e deixada em locais abertos e bem ventilados. O processo de secagem ou desidratação da carne forma uma "casca" que conserva o interior da carne com uma textura macia e mais úmida. No entanto, esse processo em exposição já está sendo modificado, a fim de evitar a contaminação da carne. Hoje, muitos serviços já fazem a carne de sol, sob refrigeração.

*Carne Seca:

A carne seca ou o famoso jabá, é obtida com a adição de muitas camadas de sal. A carne é salgada e empilhada em locais secos. A posição das carnes na pilha é alterada constantemente para facilitar a evaporação da água e depois as carnes são estendidas em varais para finalizar a secagem. A carne sofre um processo de total desidratação, ficando com uma textura mais rígida que a carne de sol. 





*Carne de Charque
O charque é um produto tipicamente da Região Sul. A carne de charque sofre um processo similar ao da carne seca. No entanto, busca-se utilizar carnes com mais gordura. O processo de desidratação pode durar até dez dias, onde o sal é retirado e colocado na carne diversas vezes. 


Um pouco de história: Charqueadas

Conservar a carne com sal é uma herança dos portugueses. Os índios usavam o móquem para a conserva das carnes que sobravam da caça. A técnica se valia de cortar a carne e colocar sob um fogo baixo , fazendo secar o suco da carne, sem tostá-la. Mas logo, os índios se adaptaram a realizar a salga ensinada pelos colonizadores. E apesar da fácil extração de sal, por conta do imenso litoral, os brasileiros não possuiam fácil acesso ao sal na era colonial. A coroa portuguesa detinha o monopólio do produto, obrigando os brasileiros a importarem o produto do reino. 

A ocupação do sertão nordestino se deu pelo introdução do gado, e principalmente o sertão cearense, onde a ocupação se deu nos vales do rio Jaguaribe e Acaraú. Com o crescimento das fazendas, a pecuária se torna a atividade mais lucrativa. Aqui, surge a figura do vaqueiro, homem de confiança que cuida de centenas de reses de uma só vez, figura típica da região Nordeste. Porém, pelo baixo poder aquisitivo da população não se justificava matar centenas de cabeças de gado para apenas aproveitamento do couro, produto de grande valia na colônia. 

Para resolver o problema, surgem as charqueadas ou feitorias, fábricas de beneficiamento de carne, que no sertão cearense, encontraram as condições ambientais perfeitas para a produção de carne seca.

"além de matéria-prima abundante, possuía outros fatores locais asseguradores de êxito: ventos constantes e baixa umidade relativa do ar, favoráveis à secagem e duração do produto, existência de sal, cuja importância se não precisa destacar, barras acessíveis à cabotagem da época.”(GIRÃO, 1984)"


Enquanto isso, na região sul, os estancieiros matavam um boi apenas para o aproveitamento do couro, ficando a carne como pagamento dos vaqueiros, nascendo assim a tradição do churrasco no povo humilde do Sul. Nesse contexto, surge José Pinto Martins, cearense, que vai para o Rio Grande do Sul e instala sua industria de carne-seca nas margens do rio Pelotas. Logo, a produção gaúcha se desenvolveu, por conta do excedente de carne. A carne que já tinha vários nomes, ganha mais um, de origem quichua, idioma falado nos Andes na era inca. O idioma chega aos Pampas pela migração das tribos, nos dando o que conhecemos hoje como charque.

Faça a sua própria carne de sol, você irá precisar de:
- 2kg de sal grosso
- 1 kg de carne (picanha, maminha, patinho, coxão mole)

Em uma vasilha coloque 1 kg de sal grosso, coloque a carne sobre a camada de sal e cubra com mais um kg de sal. Cubra com plástico filme e leve para geladeira. Mantenha sob refrigeração por no mínimo, 48 horas.
Após esse período, retire todo o sal e já pode utilizar a sua carne de sol.

E o UFChefs te dá a dica de uma receita deliciosa Arroz de Hauçá, um prato típico da culinária afrobrasileira. Visite nosso livro de receitas!

Para ver a receita, clique aqui!

Mais informações em:

GIRÃO, Valdelice Carneiro. Oficinas ou Charqueadas no Ceará,
Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto. 1984
FERNANDES, Caloca. Viagem gastronômica através do Brasil. 9. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2009.
SALDANHA, Roberta Malta. Histórias, lendas e curiosidades da gastronomia. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2011. 355 p.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Coco: tradição e brasilidade

Amanda Criste Nobre Maia
Estudante de Gastronomia - UFC


Dada sua vasta dimensão territorial, o Brasil assume uma série de representações e, consequentemente, uma multiplicidade de signos o representam. Difícil pensar o Brasil em sua dimensão tropical/praiana e não associar instantaneamente a imagem do coco verde com sua água gelada. Ou ainda imaginar as festas juninas tão aclamadas no Nordeste e não lembrar das cocadas e outros tantos quitutes elaborados à base de coco.


Originário da Índia, o coco chegou ao Brasil trazido pelos portugueses e abrasileirou-se rapidamente, sendo uma fruta apreciada e identificada facilmente pelos brasileiros. O coqueiro (Cocos nucifera L.) é considerado pelos povos orientais uma planta completa, com a qual se fabrica da roupa ao alimento e ainda o material para construção da moradia; se aproveita casca, polpa e água.

O coco é uma fruta com polpa firme e fibrosa, usada ralada ou em lascas, fresca ou seca. É utilizado no preparo de bebidas, pratos doces e salgados e substitui com facilidade e vantagem nozes e amêndoa em diversas receitas.

A fruta está integrada à mesa e aos hábitos alimentares dos brasileiros, sendo base e/ou complemento de vários pratos apreciados nacionalmente ou característicos de determinadas regiões, como o arroz doce com leite de coco, cocada, feijão de coco, moquecas/ensopados de peixe ou outros frutos do mar, quibebe, bolos, docinhos de festa, dentre tantos outros.

Para os apreciadores do coco, visite nosso livro de receitas. Lá você encontra uma receitinha da nossa querida professora e orientadora, Mattu Macêdo e uma sugestão de leitura sobre o coco e diversos outros produtos da culinária, numa abordagem antropológica da alimentação.

Para ver a receita, clique aqui!


Sugestão de leitura: 
Brasil bom de boca: temas de Antropologia da alimentação (Raul Lody)



Coletânea de 56 artigos do antropólogo Raul Lody fazendo ampliado retrato do que come o povo brasileiro, em variados contextos históricos, sociais e culturais. Analisa o Brasil de norte a sul, relatando temas do cotidiano e das festas, dos costumes, dos rituais religiosos e da construção de sistemas alimentares que identificam etnias, regiões, grupos, famílias, atividades profissionais, e indivíduos em diferentes situações urbanas, rurais, da periferia, atuantes em contextos multiculturais e globalizados.







Referências Bibliográficas:

KÖVESI, B.; SIFFERT, C.; CREMA, C.; MARTINOLI, G. 400g. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, 2007.



LODY, R. Brasil bom de boca: temas de Antropologia da alimentação. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.

domingo, 15 de junho de 2014

Gastronomia regional: O feijão verde


Escrito por Samuel Brito
Graduando em Gastronomia da Universidade Federal do  Ceará

Estamos em junho, mês de São João, férias e copa do mundo. Para comemorar todos esses eventos, o UFChefes preparou uma lista de maravilhas cearenses para você conhecer e se deliciar. Hoje vamos falar sobre o feijão verde, um alimento que está no nosso dia a dia e  pode ser redescoberto de várias formas.

Entendendo o feijão em número

O feijão é uma das leguminosas não oleaginosas mais consumidas no mundo. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), em 2007 foram consumidos cerca de 16 milhões de toneladas de feijão, o que representou 37% de todas as leguminosas não oleaginosas consumidas mundialmente.
O Brasil é o maior produtor mundial de feijão com produção média anual de 3,5 milhões de toneladas. Típico produto da alimentação brasileira é cultivado por pequenos e grandes produtores em todas as regiões. Os maiores são Paraná, que colheu 298 mil toneladas na safra 2009/2010, e Minas Gerais, com a produção de 214 mil toneladas no mesmo período.

Conhecendo o feijão verde

O feijão verde é o mesmo feijão de corda, a diferença está na época da colheita, pois o feijão verde como o nome diz é colhido ainda verde, já o feijão de corda tem sua colheita quando as vagens já estão maduras e secas.

Como comprar e armazenar o feijão verde

Não compre o feijão verde enlatado, procure escolher os feijões que você comprará. A vagem deve apresentar uma textura tenra e uma coloração verde vivo. Aperte a vagem procurando sentir um pequeno estalo e observe se contem uma polpa suculenta e sem fios (indica envelhecimento). Não deverá ter manchas escuras.
Se não puder consumir o feijão verde imediatamente, deverá armazená-lo, sem lavar previamente, no frigorífico dentro de um saco plástico perfurado. Você pode mantê-lo por 3 dias nessa condição.

Características nutricionais

O feijão verde além de delicioso também apresenta características  nutricionais bastante interessantes. Tem um baixo valor energético e é rico em vitaminas e minerais. Destacam-se os carotenos (pro-vitamina A), vitamina C e ácido fólico; o cálcio, ferro, fósforo, magnésio e potássio. Além disso, são boas fontes de fibra alimentar.

Tabela de composição nutricional (por 100g de porção edível)

  Feijão Verde Cozido
Energia (kcal)
  23


Água (g)
  90,8


Proteína (g)
1,8


Lípidos (g)
0,3


Hidratos de carbono (g)
3,5


Fibra (g)
3,0


Caroteno (μg)
239


Vitamina C (mg)
11


Ácido fólico (mg)
49


Cálcio (mg)
41


Ferro (mg)
0,6


Fósforo (mg)
34


Magnésio (mg)
17


Potássio (mg)
230




mg = miligramas; μg = microgramas. Porção Edível = diz respeito ao peso do alimento que é consumido depois de rejeitados todos os desperdícios.
Fonte: Porto A, Oliveira L. Tabela da Composição de Alimentos. Lisboa: Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. 2006, pág. 70-71.



As vantagens do consumo de feijão verde




O feijão verde tem efeitos protetores do sistema cardiovascular. Os carotenos e a vitamina C são excelentes antioxidantes, protegem de infecções e da oxidação das células e outros componentes do organismo. Além disso, a fibra, potássio, magnésio e ácido fólico desempenham um papel importante na proteção cardiovascular. O magnésio e o potássio têm efeito complementares na manutenção da tensão arterial. O ácido fólico é necessário para neutralizar a homocisteína, uma molécula potencialmente perigosa e que aumenta os riscos de doença cardiovascular.
O conteúdo de ferro do feijão verde é razoável, sendo importante para a formação da hemoglobina. A hemoglobina é um componente dos glóbulos vermelhos do sangue responsável pelo transporte de oxigênio para as células.

 O feijão verde a tradição

Você pode até não estar com fome, mas alguém menciona aquele famoso feijão verde, na panelinha de barro, quentinho, com queijo coalho e cheiro verde. Qualquer um abre o apetite e fica com água na boca.
O consumo de feijão verde vai além das festas juninas, ele é diário, está em bares, restaurantes refinados e na culinária doméstica. Está no baião de dois, na farofa, salada e onde mais a imaginação levar. O feijão verde virou símbolo gastronômico e cultural da região nordeste e hoje é um patrimônio nosso.
Agora com licença que todo esse papo me deu fome, e eu vou procurar um feijão verde pra chamar de meu.



Veja no nosso livro de receitas, a receita do feijão verde na panelinha de barro, bom apetite e até a próxima. 

Para ver a receita, clique aqui!



Para mais informações:

http://www.tudogostoso.com.br/receita/17320-feijao-a-moda-cearense.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Cachaça: Uma bebida genuinamente brasileira

Escrito por Isaías Maciel, acadêmico de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.



A cachaça é obtida da cana-de-açúcar planta originária da Ásia e da Oceania, no período colonial o açúcar advindo dessa planta representou o principal monopólio para a coroa portuguesa.
“Segundo fontes documentais dos anos de 1762 a 1817, eram obtidos dois tipos de bebidas destiladas: uma provinha do caldo de cana fermentado e se chamava de aguardente de cana; a outra era obtida a partir do que sobrava nas caldeiras dos engenhos e era chamada aguardente de mel ou cachaça (Zeron, 2000, p. 56, 58.). Cascudo (1968, p. 54) a descreveu como a mais comunitária das bebidas, sendo usada em festas, cerimônias tribais, cultos religiosos e oferendas votivas aos mortos, muito além das terras brasileiras.”
No período colonial a cachaça foi utilizada como moeda de compra de escravos africanos e a mesma era utilizada na alimentação dos cativos. Devido inicialmente a bebida ser consumida por escravos e eventualmente por pessoas com baixa renda, a cachaça era discriminada como uma bebida inferior. Durante o século XIX com os problemas sociais intensificaram-se as discriminações, em um movimento de contrapartida o Modernismo iniciado em 1922, músicas famosas como “Camisa listrada” (1935), “ Se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não...” (1953), por exemplo, representaram manifestações contrárias a discriminação da cachaça.

Há dois modos de produção da aguardente: o artesanal e o industrial. O modo artesanal usa o fermento natural presente no caldo de cana e a fermentação leva 24 horas para completar-se. Normalmente é adicionado fubá, milho moído cru ou tostado, farelo de arroz ara auxiliar o desempenho do fermento. Nas grandes indústrias o processo é mais rápido (cerca de 5 horas).

A cachaça é a segunda bebida mais consumida no país, com consumo diário estimado em mais de 70 milhões de doses. A cachaça mais produzida no Brasil é da destilação contínua, mas a cachaça que tem maior valor agregado e um público mais exigente quanto às características sensoriais, é produzida através da destilação descontínua.

De uma forma geral, pesquisas demonstram que o melhor rendimento na destilação ocorre quando o caldo apresenta grau Brix entre 17⁰ e 20⁰. Para as variedades escolhidas, uma das características verificadas é o percentual de fibra, quanto maior quantidade de fibra, menor é a eficiência. E nas características das variedades de cana-de-açúcar necessárias para a produção de cachaça destacam-se: o porte (ereto), entrenós longos e, fácil despalhada. No período de colheita deve ser evitada a queima, e apenas ser realizado o corte rente ao solo.

O processo de produção da cachaça envolve várias etapas: moagem, filtragem, fermentação, destilação, armazenamento, envelhecimento, envase, rotulagem.
a) Moagem: o tempo ideal para moagem é de 12 horas depois do corte realizado na cana-de-açúcar, e nunca ultrapassar 48 horas; entre inúmeras maneiras para expressar a eficiência de moagem, usa-se a quantidade caldo extraído e o peso do bagaço.
b) Filtragem: o caldo depois da moagem contém inúmeras impurezas que diminuem a qualidade da cachaça a ser produzida. Nesse processo será eliminado a terra, bagacilhos etc., e assim ser direcionado para a fermentação limpo, doce e claro;
c) Fermentação: como há possibilidade de apresentar teores de açúcares diferentes devido à presença de diferentes variedades. É realizada uma correção do Brix com água potável. O caldo é direcionado as dornas de fermentação e permanecerá durante 24 horas em temperatura ambiente (25 ⁰C) ideal para as leveduras;
d) Destilação: na etapa anterior foi produzido o vinho de cana que apresenta baixo teor de etanol. Esse teor será corrigido na destilação, de acordo com os teores previstos em Lei para a cachaça. Os alambiques utilizados são de aço inoxidável e de cobre, usualmente são utilizados os de cobre, pois esses tipos de alambiques apresentam a vantagem de catalisar a reação de oxidação de compostos sulfurados responsáveis por sabores desagradáveis. A cachaça recém-destilada, de coloração branca, apresenta sabor agressivo e levemente amargo, identificador de bebida nova;
e) Armazenamento e Envelhecimento: com o armazenamento para o envelhecimento é utilizado pensando em aprimorar o aroma e o sabor, atribuindo uma maior qualidade. A bebida é transferida para barris de aço que não alteram a cor, ou para barris de madeira que agregam características sensoriais, entre as madeiras utilizadas temos (jequitibá, freijó, amendoim, ipê, carvalho, jatobá, bálsamo, amburana, vinhático, sassafrás, cerejeira, ariribá);
f) Envase e Rotulagem: no engarrafamento se usa recipientes que variam de volume entre 600 ml e 1000 ml. Na rotulagem todas as informações direcionadas ao consumidor e finalmente o rótulo é registrado no Ministério de Agricultura, conforme decreto 2.314, de 04∕09∕97.

A cachaça ocupa uma posição de destaque na história brasileira, mas que é pouco conhecida e valorizada. Mas aos poucos isso vem mudando, através do maior consumo, melhoria na qualidade, um maior espaço para as artesanais, etc. Reconhecendo a cachaça e seu papel fundamental e intrínseco na cultural e história brasileira.

Brix: Escala hidrométrica que indica a percentagem em peso de açúcar em solução.

Fontes:
Cachaça de Alambique. PESAGRO – RIO Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro. 2008.
Cachaça Artesanal – Estudos de Mercado SEBRAE∕ESPM. 2008
PINHEIRO, P., LEAL, M. ARAÚJO, D. Química Nova na Escola: Origem, Produção e Composição Química da Cachaça. Nº 18, novembro. 2003.


segunda-feira, 2 de junho de 2014

Gastronomia regional: as delícias do milho

                        Escrito por Alexsandro Mascarenhas Viana, acadêmico de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará.

As festas juninas estão chegando, e com elas vêm aquela vontade de apreciar pratos com aquele gostinho caipira! Quem nunca passou naquelas barracas e experimentou aqueles quitutes deliciosos ao ritmo de uma música junina? E como falar em pratos típicos, sem mencionar o maravilhoso milho, um dos símbolos da nossa cultura gastronômica?


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 Origem e aspectos culturais 

Considerado alimento dos pobres no passado, o milho era usado para saciar a fome de escravos e animais, além de ser muito apreciado pelo nosso povo indígena, desde os tempos coloniais, dos quais herdamos receitas maravilhosas, como a  pamonha, que sempre se faz presente, principalmente nos festejos do mês de junho.

Milho, um dos tesouros nacionais

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, totalizando aproximadamente 60,4 milhões de toneladas na safra 2012/2013. Seu cultivo acontece em todas as partes do país, principalmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. O grão é transformado em óleo, farinha, amido, margarina, xarope de glicose e flocos para cereais matinais.

Na gastronomia brasileira, o milho é utilizado em diversas receitas, doces e salgadas. Cada região do país dá o seu toque na culinária à base desse grão. Temos a canjica nordestina, as receitas de polenta do sul, as broas de milho do sudeste e tantas outras delícias que, às vezes remetem à nossa própria infância.

Características e propriedades

Existem cerca de 150 espécies de milho, com cores e tamanhos variados. No Brasil, cerca de 467 subtipos genéticos são cultivados, sendo que boa parte da produção consiste de variedades transgênicas do cereal. Os tipos mais utilizados na culinária brasileira são o milho de grão duro, semiduro, mole e misturado. Todos possuem caracterìsticas em comum: são ótimas fontes de energia e de vitaminas E, A e B1, além de conter boa quantidade de sais minerais ( ferro, fósforo, cálcio e magnésio).

 A gastronomia do nordeste

Um ótimo representante da culinária nordestina é o mugunzá (ou mukunzá), uma das heranças culturais afro-brasileiras, muito utilizado também como oferenda aos orixás do candomblé, em seus encontros ritualísticos. Outro bom exemplo é o curau de milho, também chamado de canjica nordestina, que consiste em um mingau espesso à base do grão, originado pela união de duas receitas: o pudim europeu e uma bebida densa feita pelo povo indígena, muito utilizada em rituais religiosos do passado.

E não deixe de acompanhar o nosso livro de receitas!

Receita de Canjica Nordestina: clique aqui!

Quer saber mais sobre as maravilhas do milho?

 http://prazeresdamesa.uol.com.br/exibirMateria/39/sua-excelencia-o-milho
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/a-gastronomia-do-milho-1.97846